Quanto tempo dura um ano?

Quando você se põe em movimento, a providência se põe em movimento.
Ouvi essa frase num TED e me impressionei com o sentido que ela fez naquele momento e se faz cada vez que me coloco a pensar sobre o sentido de determinadas coisas.

Há exatamente um ano, estava frio. Um frio como hoje, desses que sabemos que está próximo de zero grau, só não sabemos se para cima ou para baixo - natural nessa época por aqui. Há um ano eu também estava na agência, nesse horário. Há um ano, estudava um projeto que estávamos prestes a lançar dentro de dois dias - o Lixo Eletrônico Guarapuava. Parece que pouca coisa mudou em um ano, afinal, estou na agência, estudando esse projeto, que precisa ser lançado novamente.

Mais ou menos nesse horário, o telefone tocou. Minha irmã falando… a tia Dirce foi, Rê. Sai, deixei o trabalho aberto, sem salvar. Fui correndo para a casa da tia, sabendo que encontraria tios e minha mãe chorando. Vi uma certa calmaria… natural, pois se tratava daquela senhora que preparou todo mundo para isso, e disse antes de ir 'não chorem, estarei feliz'. Quem dera se as pessoas tivessem a oportunidade de entender a vida como ela entendeu. E ter a oportunidade de dizer a cada um dos que amava o sentido disso tudo…

O carro da funerária indo embora, e eu falei: cuidado moço, o senhor leva aí uma santa. Ele olhou para mim, acolhida por um guarda chuva e um abraço, e disse: eu sei, moça. A gente sente quando a pessoa é.

No dia seguinte, após as formalidades sociais e espirituais próprias, pensei em descansar. Lembrei que tinha um arquivo aberto, de uma apresentação a ser finalizada.

Outra noite fria em claro. Qualquer trabalho entenderia ser adiado. Não esse. Esse precisava ser terminado. Esse precisava ser apresentado. Na manhã seguinte, os trainees estavam com vários computadores e televisores antigos espalhados pela sala da associação comercial. Esperando empresários, professores, secretários municipais, todos convocados a ouvir sobre um assunto proposto por um grupo de jovens, que segundo alguns pontuaram 'não sabiam o tamanho do problema que iriam causar'.
O problema a foi que arrecadamos material suficiente para destino por 1 ano - para oficinas de robótica em escolas municipais, projeto com turmas de ciência de computação, engenharia elétrica, cursos técnicos - computadores recuperados e doados para projeto de inclusão digital e APAE.

Há um ano, eram 6 publicitários Renata, Elodir, Jean, Paulo, Igor e Talita, coordenando o grupo de futuros comunicadores Andreia, Flavio, Agostin, Lilian, Guilherme, André, Gustavo, Ana Paula, Carla…
Hoje somos publicitários, biólogos, professores, advogados, contadores, cientistas de computação, químicos, ganhamos Silvia, Nathalia, Lucio, Wagner, Carol, Rafaela, Márcio, Rafael, Dagmar, Leandro, Andressa, Fabio, Francisco, Patrícia, João, Adriana, Antonio, Janette, Regina, Monica, Marco… Ganhamos um projeto de extensão, ganhamos um galpão, ganhamos ferramentas.

Em um ano, realmente pouca coisa mudou. Principalmente no que se refere em "não sabemos o tamanho do problema que vamos causar".

Um ano dizem que é o período máximo que deve durar um luto.
Pessoalmente, me senti abraçada por cada pessoa que abraçou a causa nesse período.












Comentários

eduardoamuri disse…
Pessoas com essa paz de espírito e com essa serenidade me inspiram de uma maneira ímpar.

Dizer "Não chorem, estarei feliz" é demonstrar desprendimento consigo e uma dedicação a uma causa mais nobre: o(s) outro(s). Sensacional.

Sobre o tempo e o luto, taí algo realmente relativo. Passa na base do conta gotas ou da enxurrada, até que estejamos prontos para encarar novamente tudo de frente, de novo. E de novo. E de novo...

Belo relato.

Beijos.
Renata Nizer disse…
Obrigada pelas palavras, Eduardo.
Márcio Macedo disse…
Renatinha, não conhecia o seu blog. Parabéns. Alguns de seus posts são de uma graça e verdade contagiantes. Abraços de um cada vez mais fã seu.
Renata Nizer disse…
Professor Márcio, fico feliz em ver você por aqui! Obrigada mesmo :)
Renan Pitilin disse…
São 02:34 mais ou menos 0ºC, e só agora eu pude entender muita coisa do que você me disse ontem e do que você estava sentindo. "A musica",........ que enrroscava, mas eu sei, era justamente aquela que você queria ouvir, "o frio"....... que bem que você lembrou era semelhante ao do ano passado, e principalmente os "belos quadros", coincidindo com a data de um ano atrás.

Realmente as coisas não acontecem por acaso, e poucas pessoas sabem passar essa explosão de sentimentos em palavras como você faz...

Lindo o texto e a mensagem....eu pude imaginar você a um ano atrás, mesmo sem ter te conhecido...

Um grande beijo continue escrevendo.....

sempre!

Postagens mais visitadas