Do Lado de Fora


Já dizia a música que vida de publicitário em começo de carreira não é nada fácil.
Mas se levamos ao pé da letra essas coisas, podemos até crer que as renatas são ingratas ou coisas do gênero.
A verdade é que uma Renata, gratíssima pela vida que tem, e que rala muito desde o início da carreira, consegue ver coisas no seu dia-a-dia que a motivam, a fazem entender a beleza de uma profissão que tem por missão retratar a vida de forma bela.
Numa agência no interior do Paraná, com 5 portas de vidro que dão para a rua, vê mesmo nos dias mais nebulusos coisas fascinantes, e mesmo nos dias mais ensolarados, coisas nebulosas.
Enquanto olha para o lado de fora numa tentativa de concentração, ou de abstração, já teve problemas com o marido da vizinha da frente, afinal, "o que tanto essa v.... olha para cá". Tanto fez, que obrigou a pobre garota a fechar a persiana por um tempo.
Veio a mudança e a vida seguiu.
Agora observa o empenho do senhor autônomo, que no auge de seus 80 e tantos anos, empurra com sorriso no rosto o carrinho, manda um "Deus te abençoe minha filha", e quando dá tempo, pára para ver se tem algo para reciclar.
Escuta as tantas freiadas por dia na esquina, esperando um Ploft, que ao menos uma vez por semana vem. Assim como todos os vizinhos, que até sentem falta quando não há essa espécie de atrativo na esquina, afinal, vamos fotografar o que? Vê as madames descerem do carro e do salto com palavras doces para o outro condutor.
Isso quando algum cachorro não foge do pet da frente e avança para a mesma esquina. Mas da esquina também vem coisas belas, como a moça que só passa as sábados, cantando alto com uma voz doce e meiga, como se ninguém mais existisse no mundo.
Vê também os companheiros que não têm lar, que se aconchegam na madrugada na porta da sala do vizinho para passar a noite, afinal, não pega vento e ali parece seguro. Tão seguro que quando um menino passa a noite dentro da garagem de carros do outro vizinho, acorda aos socos e pontapés, e com ossos intactos a menos.
Universiários indo para a faculdade, trabalhadores voltando, senhoras com sacolas de compra do dia de frutas e verduras.
E o sócio na mesa da frente, abrindo a janela e analisando a forma que a nuvem tem naquele dia. E no outro, e no outro. E o diretor de web, com análise profunda sobre o por do sol, resumindo que o Cara é um Designer de primeira.
E a vida segue, nos lembrando que o trabalho apenas faz parte dela, que é repleta de tanta coisa, que até nos inspira a trabalhar mais um pouquinho.

Comentários

Unknown disse…
Com essas palavras puras percebe-se que a vida é assim tb. Quem complica tudo isso? Sei lá, mas de vez em quando é muito bom lembrar que somos ricos e felizes. Esse texto é rico e feliz tb em sua simplicidade e em seu detalhismo. Bjo do Mio.
Unknown disse…
Bom, tudo isso sem contar aquele amanhecer radiante com um vento meio gelado guarapuavano, a meio e mensagem que é esperada e (não) chega toda semana, a perspectiva de trabalhar num lugar diferente dentro de mesma sala em algumas horas de um dia, aprender a fazer limonadas com os clientes azedos, o café pronto as 8h17 e às 16h34, os bolos de milho nos ese's, tudo isso dava um post. hehe :)
Ediane Battistuz disse…
Re... o senhor empurrando o carrinho de reciclável por acaso é o seu Ventura?? É que ele sempre passava nessa rua quando eu morava aí perto. Eu adoro ele... volta e meia o encontro na rua. Lembro de um dia que o Rogério o encontrou na rua, logo cedinho, antes das 8h, e ele já estava indo pra sua segunda viagem. E era o dia do aniversário dele, 80 anos. Essa esquina de vocês aí tem história... Ah, concordo com seu diretor de Web. O Cara lá é um designer de primeira. O melhor, aliás. Mas poucos sabem admirar e reconhecer isso. Bjos pra vcs todos!! Bom trabalho!

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