As boas dores de 2012




O segredo da felicidade, ir em busca dos sonhos, o direito de ser feliz. Os desejos e mensagens de fim de ano geralmente chegam repletos de otimismo. Estranho seria alguém desejar sofrer, desejar ter dor, desejar a infelicidade. Mas a tal retrospectiva do ano que o Facebook proporcionou aos seus usuários me fez refletir. Vi em 20 acontecimentos a minha vida em 2012… e o último deles era o primeiro desejo do ano que fiz: "que 2012 traga o melhor que ele puder." E trouxe, nem imaginaria o quanto. Trouxe mudança. De status, para noiva. Depois, para casada. Trouxe uma gravidez, trouxe uma filha. Uma sobrinha. Uma casa. Me trouxe de volta. Trouxe velhas idéias enfim implantadas no pouco tempo que trabalhei esse ano. Trouxe pessoas de volta - as antigas amizades. Realmente, 2012 me deu o melhor que poderia. 
Mas o que a retrospectiva do Facebook não mostrou, é tudo aquilo que está por trás.
Não falo da bicicleta vendida com a promessa que iria andar muito - afinal, isso ainda se pode. Nem da vista do apartamento deixado para trás, afinal, a vista atual não deve em nada. Falo de cada partida de ônibus deixando alguém, falo das corridas ao banheiro do ônibus para vomitar, dos dias intermináveis sozinha sem forças para cozinhar, falo das corridas de taxi entre uma reunião e outra segurando um saco plástico, falo das dores - nas pernas, nas costas, na junta dos dedos, falo da dificuldade de respirar ao dormir. Da dificuldade para dormir. Falo da dor da cesária, da dor em caminhar, em espirrar, em dar risada. Da dor de aprender. De reaprender, a não ter uma agenda lotada, de ter tempo sobrando para arrumar uma mala. Ou de reaprender a não ter mala para arrumar. Dores simples, corriqueiras… mas nem por isso, deixam de ser dor. Como a dor que dói fora do corpo, como a que presenciei hoje. A dor de ver minha filha levar 3 injeções na perna, da vacina, para o bem dela. E como todas as outras, aquela dor necessária, a tal da dor boa. Aquela que evita algum mal, ou aquela que faz crescer. Tenho um carinho especial por cada dor que senti em 2012… lembrando cada vez que passava mal no início da gravidez e pensava… se estou assim, é porque minha filha está crescendo bem, saudável. É porque ela existe dentro de mim. 
Não passei pela dor do parto normal, que tanto queria. Queria sim, e quanto mais as pessoas falavam que eu era louca, mais eu queria. Talvez por refletir como as pessoas tentam fugir do que é natural, fugir da dor tentando enganar-se que será o melhor. Nem sempre, o melhor nesse caso e em muitos outros pode ser substituído por mais cômodo. É mais cômodo evitar a dor, evitar mudanças, evitar crescer. 

E aí o tal do otimismo mostra que nem só de coisas boas e felizes ele é construído. Mas de perceber o melhor que cada lado ruim nos traz. 

Não quero desejar mais dores para 2013, afinal, dor dói. Mas desejo que em cada uma, algo ruim possa ser curado ou evitado. Como 3 injeções na perna. 

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