Você conhece seus vizinhos?


Conheci uma senhora distinta, inteligente, discreta. Concluiu Doutorado summa magna cum laude (a mais alta qualificação possível em uma titulação acadêmica), contrariando assim, a ideia de que estudar muito e ser uma mãe dedicada, são coisas que não combinam. Teve uma filha, por teimosia. Digo por teimosia porque a orientação dos médicos era que fizesse um aborto, pois após um longo tempo no hospital e diversas cirurgias, a chance de sobreviver ao levar essa gravidez adiante seria mínima.

Nasceu na Alemanha, mas mudou-se com a família para a Áustria. Lá, motivada pelas graves questões sociais, chegou a ser a primeira mulher eleita Deputada Federal, e foi considerada "a Consciência do Parlamento". Mas sua motivação maior não era seguir carreira política, mas sim, dedicar sua vida e função dos marginalizados.

Eu ainda estava me adaptando a morar no centro de São Paulo, o Largo do Arouche, para ser mais específica. Quem já passou por lá num domingo a noite, imagina que calmaria é a última coisa que esse local oferece, embora eu ainda achasse um lugar tranquilo para morar, no alto do 24o. andar, onde mal podia ver e ouvir o que se passava lá embaixo. A volta para Guarapuava não seria tão boa se não fosse nesse lugar, influenciado por essa mulher.

Já havíamos visitado algumas casas, mas foi saindo dessa, que nos olhamos e sorrimos. A gente sabia que era essa a casa, e nem ouvia mais os detalhes que o corretor falava. Estava decidido. Foi o lugar que nos escolheu, e não o contrário.


A frase no muro em frente à casa, foi como ela se apresentou: "Eu tenho a firme confiança de que o Bom Deus nos ajuda quando nos entregamos tudo e inteiramente a Ele" Hildegard Burjan.
Ao lado, no meio do muro, uma capela. Nossa Senhora das Graças de braços abertos, dava de frente para a janela da sala. Era iluminada, e à noite, refletia dentro da casa. E do outro lado, outra frase: "Quando a humanidade se afasta da cruz, perde também o alto significado da vida".





E assim fomos recebidos na nova casa, há um ano.
Mas foi somente essa semana que fui visitar aquelas que moram do lado de lá do muro.
Na parede, um quadro grande de Hildegard com a legenda: fundadora das Caritas Socialis - irmãs de Caridade Social.

Ela parecia estar ali, em cada sala. Numa delas, várias crianças brincando com uma educadora física. Em outra, mulheres bordando chinelos. Uma porta com a mensagem de apoio psicológico. Um refeitório, um parque, uma quadra esportiva, uma sala de música. Tudo muito bonito, cuidado. A ideia inicial, além de conhecer, era saber como auxiliar, como ajudar a tornar conhecida a obra para conseguir mais doações. Mas quanto mais andava, mais pensava que tudo já parece fluindo tão bem, tão perfeito, numa ordem, calmaria. Talvez fui eu mesma ali para receber ajuda. Depois de ouvir muito e conhecer o que faziam ali, ao lado de casa todos os dias, agradeci por conhecer melhor o legado de Hildegard. A irmã que me recebeu, notando meu interesse pela história da fundadora, me deu livros para eu conhece-la um pouco mais.

E cá estou, ainda estou nesse processo... sendo ajudada e inspirada por cada palavra que leio sobre essa amável vizinha.



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